terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Você.

No fim das contas, o que importa mesmo são as coisas que esquecemos de dizer. Porque tudo o que a gente diz, sempre é interpretado da forma que convém ao ouvinte, e não como quis expressar o interlocutor.
Na maioria das vezes sequer adianta mudar todo o seu jeito de ser, se no final das contas um minúsculo ponto de exclamação no final da mensagem de texto, não será entendido.
Felizes são os professores de gramática, que têm respaldo para defender sua pontuação e ainda inventar possibilidades diferentes de ser interpretado.
Se eu fosse experiente, eu daria o seguinte conselho: nunca, jamais, em hipótese alguma, deixem de dizer o que sentem. Por mais doloso que isso venha a ser. Deixar de dizer o que sente impossibilita que as pessoas possam agir da maneira que você espera, ou pelo menos possam ser honestas com você, em relação ao que elas próprias sentem.
Eu sou sentimental, juro. Sou até mais do que a grande maioria das mulheres. Só tenho muito medo de que meus sentimentos sejam os meus calcanhares de Aquiles. Tenho medo de pegar uma flechada e acabar perdendo tudo o que deu tanto trabalho para plantar, colher e separar o melhor.
Ao contrário do que as pessoas pensam, eu passo o dia inteiro ansiosa esperando uma ligação e sou capaz de mudar todo o curso da minha vida em favor de alguém que eu ache importante. E não estou falando apenas de grandes amores, falo de grandes amigos também.
Mas voltando ao que eu estava dizendo, quando esquecemos de dizer o que realmente queremos que as pessoas saibam, estamos dando margem para que elas interpretem uma parte de nós que não diz respeito a mais ninguém, senão nós mesmos.
O fato é que dizer o que pensamos é fácil porque pensamentos podem ser consertados. Alguém mais sábio pode nos dizer que aquela convicção é errada e facilmente mudar nossas certezas. Mas dizer o que sentimos é um fardo que carregamos sozinhos. Ninguém pode consertar o que sentimos. Em tese, sentimentos não podem sequer ser julgados. Estão acima do entendimento humano. Não há livro que ensine, ou cartilha informativa, há apenas uns milhões de poemas e músicas que entendem tudo o que se passa dentro da gente, e pessoas que já passaram coisas bem parecidas, mas ainda sim é provável que as sensações sejam diferentes.
Não há escapatória, acho que a solução para os relacionamentos é mesmo a mais difícil: engolir o orgulho e ligar com uma voz doce, perguntando se há algum problema, se você entendeu errado e não era tudo aquilo que você esperava, e correr o risco de ouvir (na melhor das hipóteses) a pessoa do outro lado da linha lhe dizer que está tudo bem e foi apenas um mal entendido ou que não é realmente aquilo que ela quer e pôr um ponto final em tudo. E reze para ser um ponto final sem reticências nas entrelinhas.

2 comentários:

Trevizan disse...

Me vi!!! Carammmba... Qualquer dia posso colaborar com um texto meu??

Lúcia Maria disse...

Vi a minha vida aí nessas palavras. não é facil.